Qual é o seu papel na inovação tecnológica de sua empresa?


De todas as empresas de tecnologia que você conhece e admira, quantas surgiram da cabeça de um executivo que fez uma extensa pesquisa de mercado? Quantos produtos que causaram revoluções em uma indústria são resultado de anos de pesquisa e aprimoramento de um processo de manufatura?

Pode procurar, eu espero.

Achou algum? Eu sou capaz de apostar que não. E não é por culpa do seu mecanismo de busca favorito. A resposta é mais simples: produtos e idéias que revolucionam mercados (e que no processo deixam seus autores ricos) são desenvolvidos à margem dos objetivos e planos daqueles que fazem parte do establishment.

O iPod, o Ford T, o algoritmo do Google… todos eles surgiram da cabeça de alguém que estava buscando um meio diferente de resolver um problema. Em muitos casos, tudo partiu de um conceito simples, desenvolvido por alguém que apenas observou a forma que as pessoas trabalhavam e intuiram que uma solução melhor era possível.

Tente fazer isso para a sua empresa. Leve uma proposta de uma nova idéia para o seu chefe e veja a sua reação. Mesmo se for uma boa idéia, seu chefe não vai se entusiasmar em implementar algo que pode custar a cabeça dele se der errado. Antes de fundar a Apple, Steve Wozniak pediu a seu chefe para desenvolver o computador dentro da HP, que era seu empregador. Só depois que a HP abriu mão da idéia é que Woz se juntou a Jobs rumo a seu projeto bilionário.

Ainda hoje, grandes empresas se mostram eficientes em gerenciar e manter negócios já existentes, mas péssimas na criação de valor e novas riquezas.

Antes que você se pergunte “E eu com isso?” e volte para o seu jogo de WoW (ou Winning Eleven se você for menos geek do que gostaria de admitir), tente refletir um pouco sobre o seguinte: como trabalhar em uma grande empresa de tecnologia hoje, se a inovação contínua é algo que não costuma ser bem feita dentro da empresa?

Tom Peters é um cara que já pensou bastante no assunto.

Para o leitor que prefere ler toda a API do Java a ler algo sobre o mundo corporativo: Tom Peters é tido como um dos gênios de administração e negócios. Parte dos seus princípios está justamente em explicar porque grandes empresas não devem ter medo de derrubar seus próprios negócios estabelecidos. É o que é chamado Destruição Criativa.

Transcrevo uma de suas pílulas de sua sabedoria: Contrate os Freaks.

Never hire a human being who had a 4.0 (NT: 4.0 é a nota máxima na faculdade americana) in college. If they had a perfect GPA, it means they bought the act and never screwed around. Now a 2.0 is probably not so good. But the ones who had 3.0, yeah! Those are the freaks you want!

Fica mais bonito quando as palavras são dele, não? Além do mais, ele te cobraria milhares de dólares por palestra, enquanto meu texto sai mais barato que um dogão no Pacaembu. Mas a mensagem é a mesma: as empresas que quiserem continuar relevantes no seu mercado de atuação precisam dar espaço para pessoas com pensamento criativo, fora do lugar comum.

Como eu estou começando a escrever agora e preciso mostrar serviço, eu vou dar uma dica bônus: se você for um dos “freaks”, objetos de desejo de Peters, você é muito mais importante para a empresa do que vice-versa. Use isso a seu favor!

A lógica é simples: uma Grande Empresa (tm) já tem um negócio estabelecido, e tem que gastar muita energia (pessoal, recursos, departamento judiciário, lobby, marketing) na manutenção desse negócio. Além disso, eles precisam de você se quiserem pensar o Futuro. Em troca, eles lhe prometem um salário e um crachá. Lucro e Risco provenientes do seu trabalho são diluídos, já que seu trabalho vai ser composto com o trabalho de todos os outros, do Diretor até o Office-Boy.

Mas, sendo o “freak” que é, você só tem a ganhar se trabalhar sozinho ou com um número reduzido de pessoas, preferencialmente “freaks” como você. O risco aumenta, mas as chances de lucro aumentam ainda mais.

Considere que o “risco” em questão em casos de empresas que tem custo baixo de operação, como um negócio online, é apenas a possibilidade de ficar sem o salário da empresa. Diante de uma lógica dessas, aceitar o salário da empresa (por melhor que seja) parece-me um roubo!

Pode levar tempo para que mais pessoas percebam isso. E mais tempo ainda para que as pessoas façam essa transição na forma de encarar a sua vida profissional. Mas esse é um processo que já está em curso, e aqueles que agirem mais rápido vão ser mais beneficiados.

Agora, cabe uma pergunta: quem você quer ser? O Diretor da Empresa que não vai encontrar talentos que aceitem trabalhar (a não ser em troca de um gordo salário e benefícios) na sua empresa, ou o freak que aprendeu muito mais que as respostas para as provas da faculdade e entregou todos os projetos no prazo?