Os vídeo-games e a inovação na computação


Sempre gostei de vídeo-games. Alias, lá no começo de tudo, a maior parte do tempo que eu passava na frente do MSX lá de casa era pra jogar. E continuou assim com meu primeiro PC (um 386 DX 40 MHz!). Entre o MSX e o 386 eu também tive um Phantom System. Fantástico também (para a época)!

Mas, de uns tempos para cá, por causa do meu trabalho, acabei tendo que entrar em contato com esta área dos vídeo-games sob um outro ponto de vista que se tornou, para mim, tão fascinante como aquele que eu tinha quando eu era apenas um “viciado” por jogos eletrônicos.

Este outro ponto de vista me levou a perceber coisas que, até então, apesar de parecerem naturais, não pareciam ter ligações entre si. Por exemplo, todo mundo sabe que a computação eletrônica vem evoluindo de maneira frenética nos últimos 20 anos ou mais, para não dizer desde que foi inventada. Também é meio que consenso geral que a evolução da computação, dentre outras coisas, é dirigida por necessidade de maior poder de processamento, afinal não faria sentido se aumentar o poder de processamento se não existem problemas que requeiram tal poder ou se não somos capazes de criar problemas para requererem este poder de processamento (não dizem que a computação veio para resolver os problemas que ela mesmo criou?). E ai chegamos no ponto que eu queria chegar: dentre as aplicações usadas por um usuário doméstico, quais são aquelas que, em geral, precisam de maior poder de processamento?… Jogos! Seja porque tentam renderizar gráficos com cada vez mais detalhes, seja porque tentam implementar inteligências artificiais cada vez mais complexas ou seja porque tentam criar novas formas de iteratividade com o usuário, jogos requerem um grande poder de processamento.

O poder de processamento de consoles de vídeo-games sempre foi relativamente grande se comparado com o poder de processamento de PCs. É claro que esta não é um comparação totalmente justa porque os consoles de vídeo-games não podem ser estritamente descritos como computadores de propósito geral e, por causa disso, é claro que eles sempre ganham em performance na execução de jogos quando comparados com os PCs. Mas é certo também que depois do meio da década de 1990 os PCs melhoraram bastante sua performance na execução de jogos. E, mais do que isso, parece que estamos vendo nascer uma nova indústria de consoles de vídeo-games onde o console começa a se misturar com o PC e vice-versa.

A entrada da Sony no mercado de consoles vídeo-games no meio da década de 1990 e, depois, da Microsoft no início dos anos 2000 mudaram definitivamente o rumo do mercado de consoles de vídeo-games no mundo. As duas desbancaram os fabricantes tradicionais de consoles, dos quais só sobrevive ainda hoje a Nintendo. Além disso, a entrada de ambos neste mercado marcou o início da era dos consoles que não apenas rodam os jogos mas também são capazes de muitas outras coisas.

Dos consoles atuais (de sétima geração), pelo menos dois deles apostam no aumento do poder de processamento como meio de se emplacarem no mercado. O XBox 360 da Microsoft e o PlayStation3 da Sony possuem processadores multi-core agressivos. Eles atacam nas frentes que já citei anteriormente: gráficos cada vez mais perfeitos e jogos cada vez mais inteligentes. Além disso, toda esta capacidade de processamento está tornando possível a criação de ambientes mais reais, já que o poder de processamento extra torna possível um processamento mais fino da física do jogo. Os raios de sol nestes consoles refletem nos vidros, a gravidade existe de forma mais parecida com aquilo que vivenciamos no nosso dia-a-dia e a água ondula de verdade quando jogamos uma pedra num lago.

É claro que tudo isso é muito legal, mas estes consoles vão ainda mais longe. Na minha opinião, eles querem se tornar as verdadeiras centrais de entreternimento das casas. Com tanto poder de processamento, estes consoles são capazes de tocar música e vídeos, servir como ponto de interconexão de dispositivos em rede na casa, navegar na Internet, permitir a conexão de TVs digitais e muito mais. Ah, sim, antes que eu me esqueça, eles são capazes de rodar jogos também!

Estes consoles tentam também emplacar novas tecnologias de mídia como o Blue-Ray, da Sony, que é padrão no PlayStation3, e o HD-DVD, apoiado pela Microsoft, que não é padrão no XBox 360 mas que pode ser conectado ao console.

Correndo por fora neste mercado, temos o Wii, console de sétima geração da Nintendo. Ele não possui um processador tão poderoso quanto o dos outros consoles, mas ele aposta numa nova forma de interação com o usuário que tem tudo para ser matadora neste mercado. Se os outros saem ganhando quando eles tentam ser a central de entertenimento da casa, o Wii sai ganhando por ser o console com melhor interatividade. A nova forma de interação com o usuário criada pelo Wii não é só inovadora, mas ela também justifica o que já citamos antes: ela também necessitou que houvesse um salto no poder de processamento dos consoles da Nintendo entre a sexta e a sétima geração para suportar, dentre outras coisas, este novo paradigma de interatividade. Mais ainda, ela também leva à evolução da computação de uma forma geral já que propõe novas formas de interação com sistemas de computação, se levarmos em conta que ela pode ser usada para outros sistemas que não sejam jogos.

Eu prentendo, mais pra frente, analisar mais a fundo pelo menos dois destes novos consoles de vídeo-games pois eu julgo que eles trazem inovações que irão afetar de forma definitiva a computação em geral e não só no mercado de vídeo-games nos próximos anos. Mas de qualquer forma, queria compartilhar com vocês esta minha percepção de que os vídeo-games são um dos grandes responsáveis pela evolução da computação pessoal nos últimos 10 a 15 anos, eu diria.

É claro que eu acredito que o que já citei neste post serve de prova para a ligação entre os vídeo-games e a inovação na computação, mas querem um outro argumento sobre porque eu acho que o mercado de consoles de vídeo-games está cada vez mais ligado ao mercado de computadores pessoais e à evolução da computação de uma forma geral? Sabem quem é o fabricante dos processadores dos três vídeo-games de sétima geração existentes?… A IBM, uma especialista em fazer processadores para servidores corporativos de alta capacidade de processamento e uma das maiores inovadoras nesta área.