Carreiras? Para onde nós vamos, não precisamos de carreiras.


Então, você está aí, feliz no seu emprego. Ao invés de passar seus sábados no posto de gasolina tomando coca-cola com vodca barata, você já conversa com seus amigos pelo msn ou pelo celular sobre o “Happy Hour”. Ao invés de fingir que estuda no laboratório da faculdade, você passa seus dias envolvido com sua atividade profissional. E todos sabemos qual é o dia-a-dia de um profissional: programar 20 linhas de código enquanto descansa após 6 horas de vídeos do YouTube. Isso que é vida!

Ou então, a empresa que você trabalha bloqueou o acesso aos seus passatempos favoritos, e você acabou caindo no log4dev. Quem sabe aqui (você espera) tenha algum post que possa te ajudar a resolver aquele bug idiota que só acontece quando o usuário está logado usando a versão 6.6.6 do IE, num teclado DVORAK acentuado. Você sabe que esse bug não vai melhorar o produto em absolutamente nada, mas seu chefe falou que é muito importante para que o produto esteja de acordo com as normas de acessibilidade do Curdistão, então é bom você, ao menos, encontrar informação suficiente que te permita ter uma justificativa para fugir do bug e marcar como WONT_FIX sem correr o risco de ir para a rua.

Ou então, você é um adolescente metido a esperto que fica buscando textos na internet que possa copiar para o seu site, na tentativa de aumentar em R$2,20 a sua renda mensal com a tonelada de AdSense que recheia o seu “blog”.

Dá trabalho, não?

Vale a pena? Gastar todo o seu empenho e seu conhecimento em um sistema de contabilidade que usa WebServices para a emissão de notas fiscais do açougue do seu tio? Ficar caçando o último rootkit para plantar um backdoor no computador do cara chato da sua escola só porque ele te deu um humilhante “Pedala, Robinho” seguido de um cuecão, quando você finalmente tomou coragem para falar com a Jéssica-aquela-menina-bonitinha-da-sua-turma. Vale a pena?

Talvez não seja o que você queria fazer. Talvez a necessidade de pagar a pensão para a filhinha que você teve aos 18 anos de idade seja maior que as suas paixões pelo seu projeto de computador foto-iônico. Talvez seu emprego seja apenas uma forma de garantir que você tenha dinheiro para financiar seus outros sonhos: sua banda de rock, sua TV de plasma de 183 polegadas, seu Dodge Dart 1981 original. Talvez a sua única ambição quando se interessou por tecnologia era encontrar uma forma de espiar o cara chato da sua turma e poder divulgar no meio da sala de aula o vídeo em que ele faz caras e bocas enquanto dubla uma banda Emo. Talvez o dinheiro do seu salário seja o que você precise para comprar o amor da Jéssica, que agora está trabalhando numa casa que usa neon vermelho para compensar a péssima iluminação natural.

Não importando o seu motivo, o que importa é que você está aqui e agora lendo esse texto.

Mas, se você se importa com o seu trabalho e com aquilo que você produz, será que a melhor alternativa é procurar e aceitar o primeiro emprego que te oferecerem?

Se você acredita na proposta da empresa que pretende trabalhar, tudo que posso dizer é “Vá com fé, irmão computeiro”. Desenvolva todo o seu potencial, coloque todo o conhecimento acumulado e mostre ao mundo o produto do seu suor. E não esqueça de comentar o código.

Mas se você está apenas trabalhando na esperança de receber o cheque no fim do mês, ou esperando a promoção para tentar fazer alguma mudança na empresa e impor a sua marca, há muito mais que pode ser dito.

Por exemplo, há de ser dito que um jovem recém-formado pode, hoje - a um custo muito baixo ou próximo de zero - montar a sua própria empresa e desenvolver produtos que o tornem mais rico que qualquer profissional de carreira.

Podemos dizer que não há mais, na prática, falta de recursos para que uma pessoa possa sozinha trabalhar na sua idéia.

Podemos dizer que um avanço rápido na forma de interação entre as pessoas e a forma de se fazer negócios está em curso, graças ao open source e as tecnologias distribuídas. E, mais importante, o acesso a essas ferramentas é universal. Qualquer um pode mudar o mundo, se quiser.

Mas, hoje, a única coisa que vou dizer é que há muitos que já estão antevendo o resultado dessas mudanças, e estão trabalhando para colocar essas novas propostas em curso. Um destes é Paul Graham, que fez sua fortuna através de sua própria startup, e agora trabalha investindo em novos talentos, sendo um facilitador de novos projetos. Contratar é Obsoleto é uma tradução de um de seus textos, no qual ele explica porque pode ser melhor para uma pessoa jovem que ele monte a sua empresa, ao invés de seguir a idéia tradicional que um recém-formado precisa entrar para uma corporação.

Sempre que eu precisar fazer um intervalo dos meus planos de dominação mundial através da minha startup, pretendo trazer algo para cá.

Até mais, e não se esqueça de comentar o seu código: é um saco ter que desvendar o que você quis fazer naquela função de 2739 linhas.